terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Meow e outros curtas brasileiros


NESTA SEXTA
7 de dezembro
ÚLTIMA SESSÃO DO BAIXA AUGUSTA ESTE ANO
Não há como negar: Meow, Animação de Marcos Magalhães,  é um marco na história do cinema de Animação Brasileiro.

A história do gatinho que se rende ao charme da publicidade para deixar de tomar leite é um ponto de referência para muitos animadores, animaníacos, professores e fãs do cinema. Tanto é que, em 1982 ganhou o prêmio especial do Juri no Festival internacional do Cinema de Cannes. Um dos mais aclamados festivais de cinema do mundo.



O curta de animação “Meow”, de Marcos Magalhães, produzido em 1981, me fez lembrar duas referências, uma histórica e outra cultural: a primeira sendo o boicote aos produtos britânicos em protesto empreendido por Mahatma Gandhi em defesa do uso entre os seus conterrâneos de vestimentas a base de algodão, o que contrariava os interesses da crescente e poderosa indústria têxtil inglesa que dominava seu país, a Índia; O outro, subsídio cultural surgido depois do lançamento desse curta de Magalhães, é a música dos Titãs, “Comida”, na qual em algumas estrofes vemos as seguintes frases... “Você tem fome de que? Você tem sede de que?”.

E qual é a relação entre a animação “Meow” e essas duas referências tiradas do baú por mim? Em primeiro lugar é importante destacar que a obra de Marcos Magalhães parece, a princípio, datada, ou seja, fruto de uma época. Não é. Logicamente essa produção espelha idéias que naquele início de década de 1980 estavam em voga, motivadas em particular pela batalha ideológica que se travava entre capitalistas e socialistas, aliados dos Estados Unidos e simpatizantes da União Soviética.

Mas não creio que esse documento audiovisual seja datado. Penso que há ainda bastante atualidade em suas idéias, em especial no que se refere à crítica evidente em relação à aculturação de países mais pobres, subdesenvolvidos ou em crescimento, com a substituição dos valores de suas culturas originais pelos estandartes dos países dominantes, situação essa que hoje em dia ainda persiste e que é identificada como conseqüência, sem contra-indicações, da globalização.

Outro aspecto que salta aos olhos e que pode ser utilizado como elemento de reflexão e debate é a substituição do leite pela “soda” (refrigerante) como alimento do personagem principal, o gato. Devendo-se também adicionar a essa reflexão o fato do gato miar em língua estrangeira... Os sons por ele emitidos não são escritos no tradicional “miau” da língua portuguesa e sim, no modelo identificado a partir do idioma de Shakespeare, o inglês, estando grafado como “meow”, inclusive no título...

A comparação com Gandhi e com a música “Comida”, dos Titãs, caminha, portanto, nessa trilha, ou seja, a da imposição evidente de valores, práticas, produtos, ações e até mesmo de uma linguagem estrangeirizada, um tanto quanto alienígena aos princípios e bases das civilizações que recebem essas influências e que, mobilizadas pela força do capital, da mídia, dos interesses políticos e do poder das corporações, pouco ou nada pode fazer para resistir...

Por João Luís de Almeida Machado, que viveu os anos da guerra ideológica entre EUA e URSS e percebe que os resquícios daquela época ainda estão por aqui...



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