9 de novembro, 19,30 horas
“L’Illusionniste” é o novo filme de animação do conceituado
realizador francês Sylvain Chomet, que ganhou fama e prestigio com “Les
triplettes de Belleville” (2003). “O Mágico” é uma homenagem às antigas
formas de entretenimento, os ilusionistas, os ventríloquos, trapezistas e
palhaços, mas é mais do que isso, é uma homenagem ao cinema mudo e ao
mestre Jacques Tati.
Baseado num argumento originalmente escrito por Tati, em 1956, em
dedicação a uma filha ilegítima que teve e que nunca chegou a ser realizado.
Sylvain Chomet adapta esta história para a animação, pois de outra maneira não
seria possível realizar este argumento. A história é passada na década de 50
numa altura em que a cultura pop começa a substituir as outras formas de
entretenimento. Tatischeff (nome de nascença de Tati) é um ilusionista que
percorre o mundo realizando espetáculos de magia em várias salas de teatro e
Music Halls. A sua carreira está em vias de extinção, pois o mundo está em
constante evolução e o público esquece-se desta arte, que é a magia. Tatischeff
vê-se obrigado a apresentar o seu espetáculo num “pub”, na costa ocidental
escocesa. Aí conhece Alice, uma jovem rapariga muito inocente, que fica
imediatamente encantada com o mágico. A rapariga segue-o e passa a viver com
ele como se fosse sua filha. A partir daqui, a vida de Tatischeff mudará para
sempre.
A personagem Alice é de uma rapariga inocente que acredita na magia de
Tatischeff. Ingenuamente, Alice pensa que pode ter tudo na vida com um simples
truque de magia. Mas, infelizmente não é assim e ela acaba por perceber isso.
Um palhaço abatido prestes a suicidar-se, um ventríloquo que vende o seu boneco
e um trio de trapezistas que se “vendem” ao mundo da publicidade, são a imagem
de um mundo em mudança que representam as velhas artes caídas no esquecimento.
A narrativa parece muito simples, mas pelo contrário é bastante
complexa. É uma história com muitas características biográficas de Tati, o que
faz com que este esteja sempre presente em todo o filme, em espírito, claro
está. A própria personagem do ilusionista é a figura de Tati, a maneira como
anda, como reage aos imprevistos, todos os tiques de Tati estão lá. E para que
não restem dúvidas, o realizador Chomet oferece-nos uma bela surpresa, com a
cena em que o ilusionista entra num cinema e depara-se com um filme de imagem
real, protagonizado pelo próprio Tati (o filme “O Meu Tio”). O público sai
da sala com a sensação de ter visto um novo filme de Jacques Tati, porque de
facto, durante os oitenta minutos de duração do filme, Tati esteve sempre
presente. E não é por acaso que foi Chomet a realizar este argumento, pois
Chomet é um descendente de Tati, como se viu no primeiro filme “Les
triplettes de Belleville”. O estilo de Chomet é um estilo muito pausado, com
diálogos quase inexistentes, dando valor ás imagens e à ação, com muita mímica.
Como se pode ver, quem conhece os filmes de Jacques Tati, sabe que tem o mesmo
estilo de um cinema mudo.
O ilusionista é um filme que impressiona e fascina pelo seu
visual. O desenho de Chomet é magnifico, com um traço clássico do desenho á
mão. A nível técnico, Chomet, conseguiu misturar muito bem o digital com o
desenho à mão. Todo o brilho, as cores e as belas paisagens, remetem-nos para
aquela época. A banda sonora composta por Chomet é belíssima.
Chomet criou um filme mágico e dramático. É um filme que nos faz rir e
chorar, com um final surpreendente. “O Ilusionista” é a prova de que
o cinema de animação tradicional ainda está vivo e que não precisa do 3D para
nada. Um dos melhores filmes do ano e um dos melhores filmes de animação de
sempre. Um filme genial, adulto, subtil e belíssimo!
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